"Você de repente não estranha de ser você?" Clarice Lispector.
"Ser ou não, eis a questão". Por que é tão difícil ser? Somos uma série de coisas: bonitos, simpáticos, estranhos, músicos, bobos e outros tantos milhões de substantivos. Ás vezes somos nada. Em certas situações nos sentimos um nada! O que seria um nada? Aquela sensação de ser um corpo sem alma segurando um copo de chopp num festa que não queríamos ir? Ser é muito mais complexo que estar. No momento, por exemplo, eu estou bibliotecário. Que mais? Estou trabalhando, estou estudando, estou com o cabelo curto, estou escrevendo nesse blog. O estar nos da uma sensação de situação passageira e isso nos conforta muito. Por exemplo: Estou pobre! Isso passa...Estou triste! Isso passa...Estou sempre passa, pode demorar muito mas que passa passa!
Mas o ser? O ser é muito mais complexo, né? Comecei o texto com uma citação da Clarice que me li hoje a tarde na Saraiva e voltei pro escritório pensando exatamente em quais momentos acho estranho ser o que eu sou. Primeira coisa que nos faz lembrar quem somos é nos olhar no espelho. Tem tempo que me olho no espelho, a não ser para fazer a barba ou pentear o cabelo mas aí nem conta, né? Por que nessas horas estamos ocupados na tarefa de...e não de nos olharmos. Olhar meio que olho no olho, reparando nossos traços, marcas e cores. Essa coisa de não se olhar muito no espelho será mesmo falta de tempo ou é aquela velha tradução de que não estamos muito bem e daí evitamos nos confrontar? Mas daí Soren Kierkegaard em "O desespero humano" diz que "Ninguém pode ver-se a si próprio num espelho, sem se conhecer previamente, caso contrário não é ver-se, mas apenas ver alguém" então quer dizer que de todas as vezes que nos olhamos de forma aleatória estamos vendo outra pessoa? E que pessoa seria essa? Aquela que nos representa nas situações chatas no qual precisamos vestir uma máscara? Tipo...no trabalho? Ou...no jantar de algum parente lama? Ou...no natal onde metade da família brigou pra valer o ano todo e lá estão de mãos dadas rezando e desejando feliz natal?
Mas então fui tentar saber o que Soren Kierkegaard diz sobre ser e estar e em seu manual básico de filosofia " Desespero humano - doença até a morte" a reflexão maior é sobre o como lidamos com nossos desesperos: "Todo desespero é fundamentalmente um desespero de sermos nós mesmos". Lendo um artigo bacana do professor Bazanini ele afirma que: "Para Kierkegaard o homem em desespero tem o costume de se considerar uma vítima das circunstâncias, porque o desespero revela a miséria e a grandeza do homem, pois é a oportunidade que ele possui de chegar a ser ele mesmo, chegar a ser um eu próprio. O desespero é algo universal . Todos os homens vivenciam o desespero, mesmo não tendo consciência plena dessa situação."
E nessa altura já da pra gente começar a pensar um pouco quem somos nós? o que estamos sendo nesse tempo todo?
Tava tentando enumerar em quais situações eu estranho ser eu e a primeira vez que lembro de ter me desconhecido por completo foi quando estive com ciúmes de alguém. Eu não era eu. Aquelas palavras não eram minhas. E até hoje não sei do por que de tal alteração. E pensar nisso já o começo de outra conversa: ciúmes! Então nada de pensar nisso agora! Acho que uma situação limite é outro bom exemplo da gente não se reconhecer. Quando acabamos uma apresenteção, ou quando saimos de uma briga, por exemplo, e bem depois de tomar aquele copo de água com açúcar maneiro que vamos nos lembrando e nos perguntando como que foi possível?!
Sendo ou estando alguém ou alguma coisa no fundo nos estamos buscando a cada dia superar o dia anterior, as promessas anteriores, o modo de olhar o outro e tentando nos conhecer melhor, como Kierkegaard sugere para daí começarmos a nos ver no espelho.
Há uns dois anos atrás uma amiga me apresentou ao Teatro Mágico, uma banda "independente" de São Paulo que une nos encontros musicais pessoas raras proporcionando a elas arte, circo, música, filosofia, literatura e muito beleza e óbviamente fiquei apaixonei pela banda e pelas músicas simples que conseguem traduzir tudo isso que discutimos acima e mais um pouco e agora sempre que posso vou aos encontros e a melhor definição da trupe éfeita por eles mesmo:
O teatro mágico é o teatro do nosso interior...
a história que contamos todos os dias
e ainda não nos demos conta...as escolhas que fazemos em busca dos melhores atos,
dos melhores sabores,das melhores melodias e dos melhores personagens
que nos compõem,as peças que encenamos e aquelas que nos encerram...
nosso roteiro imaginário é a maneira improvisada
de viver a vida...
de sobreviver o dia, de ressaltar os tombos e relançar as idéias,
o teatro nosso de cada dia...
musica do dia- Eu não sei na verdade quem eu sou - O teatro magico
Eu não sei na verdade quem eu sou
musica do dia- Eu não sei na verdade quem eu sou - O teatro magico
Eu não sei na verdade quem eu sou
já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro um sorriso e o meu paraíso é onde estou
Por que a gente é desse jeito?criando conceito pra tudo que restou
Meninas... são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro
Eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro um sorriso... e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou
Perguntar... da onde veio a vidapor onde entrei... deve haver uma saída
e tudo fica sustentado... pela fé
Na verdade ninguém... sabe o que é
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo
com água e farinha colo figurinha e foto em documento
Escola é onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração
Eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso... e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou
Percebi que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
Tem gente trepando no escuro, tem gente sentido ausência
Meninas... são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro