Friday, February 13, 2009

we singing in the rain

Quando dois amigos que estavam afastados ha algum tempo se reencontram num ano estranho como esse de 2009 parece conspiração do destino. Destino? Se for o destino ele então já sabia que íamos ficar mal e nos juntou novamente. E por que conspiração? Conspiração porque dá uma grande sensação que a reaproximação foi proposital, para que um apoiasse o outro. E uma sensação maior ainda de que quando a amizade é verdadeira alguém deu um pause nas conversas que tínhamos e agora nesses dias apertou o play e tudo voltou ao normal como se durante anos a vida de cada um deles não estivesse em movimento. O movimento existiu e trouxe paixões, desapegos, conquistas profissionais, a rotina, novas sensações, decisões difíceis e velhos hábitos. Durante a ausência as presenças foram pontuais: aniversários, talvez ano novo talvez natal e talvez um fim de semana “SOS preciso de sua amizade”.

Eu que não era fã de praia passei a fazer da praia uma terapia na companhia dessa amiga, a menina que fica brava quando as pessoas dizem que ela é doce, meiga e amiga. Ela quer ser má. E anos antes fazendo terapia com ela nos tempos do vestibular em um estacionamento de supermercado nunca tinha reparado no quanto ela não queria ser vista dessa forma. Eu a compreendo. A vilã sempre é respeitada seja na ficção ou na vida em que levamos. Mas decididamente ela é doce e meiga. Lê Foucalt, discute filosofia, forma futuros cidadãos e é amiga. Se ela fosse vilã teria mandado para o buraco negro xoxana e seu admirador. Mas isso que faz dela doce e paciente. Longa história. Essa é a essência dela. Mesmo que ela queira ser a “menina má.com” ela não é.

Tentamos marcar um cineminha e todas às vezes chove e muito. Da penúltima vez ficamos na praia a tarde toda, pegamos a balsa e... chuva! Uma criancinha na companhia de uma mãe irritada por não ter resposta de insistentes chamadas pelo celular profetizava: mãe, ninguém atender porque eles acham que a gente morreu! E assim voltamos para casa molhados e sem cinema com a sensação de que a criancinha estava correta. Morremos um pouco naquele dia. E a vontade de ir ao cinema foi adiada.

Ontem foi mais ou menos a mesma coisa. Um centro da cidade lotado de guarda-chuvas, poças enormes e uma mudança de planos repentina: plano b? Cinema! E não é que a chuva não deixou? Um Botafogo com ruas alagadas, caminhos desencontrados e filmes começando muitas horas depois. Molhados e rindo da situação fomos comer e papear no Subway. E secamos parte da manga no secador do banheiro e tivemos a brilhante e brega idéia de um emergente chegando a casa molhado querendo em cada cômodo da casa branca de dois andares um desses secadores de banheiro. E esquecemos por algum momento que o cinema ficaria para outro dia.

Sempre quando passo em frente a algum cinema e estou molhado lembro-me da cena do filme “Amores possíveis” e do Benício a espera de uma bela Ferraz que nunca chega. E a chuva cai. Impedindo o encontro. E a chuva impõe outro tipo de programa. E obedecemos caminhando entre poças e ruas prestes a alagar com um guarda-chuva que deveria proteger, mas que na verdade nos molha aos poucos. E andamos abraçados na chuva dividindo o mesmo espaço, o mesmo guarda-chuva e vamos ouvindo os problemas, as dúvidas, as frustrações, os medos e as alegrias das últimas horas. E apesar do peso da roupa molhada chegamos a casa mais leve, pois temos certeza que mesmo que outro pause aconteça em nossas vidas, outro play virá logo logo.

Em tempo:xoxana foi um apelido carinhoso que demos a uma cachorra de rua que encontramos numa tarde de sábado e seu admirador era um catador.... de lixo? Não... um catador de pouca vida.