Wednesday, February 18, 2009

Seria o vazio o terceiro estado?

Diz Paulinho Moska que “o vazio é o meio de transporte para quem tem coração cheio”. Mas cheio de que? De amor? De vazio? Um coração que pulsa como deveria pulsar mas que no lugar do amor ou da alegria está cheio de vazio. Difícil visualizar? Então imaginemos uma criança mascando chicletes e eis que vemos uma bola surgir: por fora é cheirosa, é grande, na maioria das vezes rosa e por dentro? Oca, vazia.

Mas só quem está ou teve esse vazio preenchendo o coração que consegue sentir o que tento descrever aqui. É o mesmo que tentar explicar a alguém que nunca sentiu fome descrever o que é fome. Você pode dizer que sente dor com um tempo. Você pode dizer que seu estômago faz barulho. O vazio também dói. E é uma dor miúda. Se possível fosse a compararia com um zumbido de mosquito. Que insiste em perturbar o melhor do sono. E é uma dor tão egoísta que nunca vem sozinha, trás consigo lágrimas independentes da sua razão e dor no estômago (suspeito que seja a mesma dor quando estamos apaixonados), trás também tonteira (outro sintoma de quando estamos apaixonados), além de um aperto como se cordas nos amarrassem, e uma sensação de perda. E uma sensação de rejeição. E uma confusão mental. Um sentimento de culpa sem ser culpado. Um fazer sem saber por que.

Ops eu não segui a trajetória correta. Isso aí vem antes do vazio. O vazio vem agora...

Sabe quando um copo está numa mureta, vamos pensar numa bela mureta...aquela da Av. Portugal na Urca, então...ali está o copo vazio (pode imaginar de vidro, de plástico, de cristal, de latinha de cerveja) em cima da bela mureta e de repente um vento bate (dependendo do material do copo pensado o vento será mais intenso) e o copo por estar vazio é derrubado e cai no mar. Você é o copo que caiu? Você era o mar que o enguliu? Não. Você era o vazio dentro do copo.

Sabe quando você caminha na orla do Leblon e esquece de olhar para qualquer lado? E não percebe que tem uma praia linda à sua frente, que o Chico Buarque passou correndo ao seu lado, que o trombadinha assaltou um turista, que um carro avançou o sinal e quase atropelou uma pessoa e você continuou seu caminho sem perceber nada disso? É disso que estou falando: “o pouco me importa”, “o estou indiferente”, “ o estou no automático”, “o nem percebi que era você”. Estaria certo dizer que nesse estado somos como um freezer? Não. Esse estado gelado vem também antes do vazio, mas definitivamnete vem depois do estado descrito no segundo parágrafo. Lembre-se que o freezer ainda tem gelo e outras coisas preenchendo cada espaço.

No estado de estar vazio perdemos toda e qualquer vontade de amar. Amar em qualquer estado possível de amor. Perdemos o gosto de nos vestir bem. Perdemos a piada que não deixaríamos passar nunca. Perdemos a capacidade de acreditar de novo em alguém. E de fazer planos. E de ligar para dar boa noite. E de se preocupar. E de olhar no olho. E de querer pôr no colo. E de querer proteger. E de querer dar prazer. E de sentir prazer. E de perder a vergonha de dizer que ama.

Se você deitar na cama e fechar os olhos e pensar como que chegou a esse estado iria passar a noite pensando, os ponteiros do relógio passariam arrastados, não conte com a ajuda deles, com sorte a lua o faria companhia , mas não o ajudaria a pensar. Ajudaria imaginar que era como crianças brincando na neve? Cada minuto brincado a bola de neve ficava maior e nós que estamos com essa sensação de vazio assistiríamos cada uma delas brincando com suas pequenas mãos até que uma delas empurra a imensa bola ladeira abaixo...