Tuesday, June 09, 2009

A nossa rotina e a deles

Estava caminhando num começo de noite qualquer no centro do Rio e entre a busca de um livro nas principais livrarias no chamado corredor cultural da cidade estava pensando na rotina imposta em nossas vidas. Aquela rotina que começa no colégio e transforma-se no trabalho e depois termina na aposentadoria. Estou no segundo estágio das rotinas e vejo-me preso a costumes do colégio. Não moro mais com meus pais, não tenho filhos me esperando em casa e ainda assim saio do trabalho correndo para chegar a casa. A desculpa? Academia. Outra desculpa? Descansar. Outra pior ainda: preciso arrumar meu quarto. Qual o problema de parar e ficar mais alguns minutos vendo os lançamentos do cinema ou das livrarias se você não tem nada para fazer depois? Qual o problema de tomar um chopp em plena segunda-feira e depois ir para casa e seguir o relatório oficial da semana? É culpa da rotina ou da disciplina criada para nós quando éramos crianças?

Por mais que tentamos mudar as regras e fugir da rotina ela fica martelando em nossa cabeça. A rotina ou os compromissos? Vai você tentar mudar um tiquinho que foi programado para você ver só. A sensação de estar fazendo algo errado cresce, mas se começarmos a reparar é só por alguns instantes. A maioria das pessoas relaxam e ficam felizes com aquela velha sensação de estar matando aula. Ainda não sei por que confundimos as coisas e colocamos culpa na rotina. A poetisa Elisa Lucinda em seu espetáculo "Parem de falar mal da rotina" jura com pés juntos que a rotina não se repete. Que mesmo dentro da nossa santa rotina, aquela que não ousamos nem mudar de calçada não se repete. E ela tem razão.

A maioria das pessoas anda com uma paranóia tão grande com a rotina que foi imposta a elas que quando chega o fim de semana, onde o que foi imposto dá um descanso, ficam sem saber o que fazer. É um tal de tentar preencher o dia com mil programas que o fim de semana passa num piscar de olhos e segunda volta-se feliz ao certo, ao não estado de surpresa, com o relógio apitando para os novos e programados compromissos. Onde está escrito que precisamos ter a mesma rotina de nossos pais?

Não viveríamos sem a rotina. Mesmo se fôssemos ciganos teríamos uma rotina para ser cumprida, mas que isso não se estenda aos momentos de lazer, que não nos acompanhe no encontro amoroso, que não nos impeça de seguir a vontade como ser pensante e inteligente de fazer o que nos der na telha. O fazer na telha com compromisso, as vezes sem compromisso, só pra ter aquela sensação de frio na barriga. Repara só como não temos mais frio na barriga. Temos compromissos, temos agendas e culpamos a rotina, culpamos o trabalho e isentamos nós mesmo da responsabilidade de ser feliz.
Eu quero ser o que sou hoje. Cada dia que passa me policio para fazer do meu dia uma coisa bacana. Transformar a minha rotina em alguma coisa prazerosa. Quero amar mais e se possível a mesma pessoa de formas diferente, quero descer do ônibus na praia e ficar lá pensando na vida sem me preocupar se a academia vai fechar, parar o que estou fazendo e admirar a lua, ligar para amigos no meio da semana e marcar um chopp só para dar um abraço bem forte, quero tentar seguir menos o que foi dito pelos pais como certo e errado e escrever da minha forma o que é certo e errado e não influenciar ninguém no futuro, deixar as pessoas irem por si só e estar perto delas quando for chamado.
Todo esse papo fez-me lembrar de uma campanha da Natura (aquela empresa de cosméticos que agora diz-me menos sacana e anda fazendo menos testes com animais). Então...qual é a rotina que você se impôs?
“A idéia é a rotina do papel
O céu é a rotina do edifício
O início é a rotina do final
A escolha é a rotina do gosto
A rotina do espelho é o oposto
A rotina do jornal é o fato
A celebridade é a rotina do boato
A rotina da mão é o toque
A rotina da garganta é rock
O coração é rotina da batida
A rotina do equilíbrio é a medida
O vento é a rotina do assobio
A rotina da pele é o arrepio
A rotina do perfume é a lembrança
O pé é a rotina da dança
Julieta é a rotina do queijo
A rotina da boca é o desejo
A rotina do caminho é a direção
A rotina do destino é a certeza
Toda rotina tem sua beleza”