Sunday, January 16, 2011

O Chico e as outras canções

A Globo exibiu semana passada uma microsérie baseada nas músicas do Chico Buarque. Fiquei curioso, vi um dia, o outro dia vi partes e apesar das músicas dele ser universal confesso que esperava histórias situadas pelo Rio. Não vi muita graça numa história ambientada no interior de São Paulo. A bunda da ex malhação Marjorie Estiano estava linda e a Globo insistindo em por o Malvino Salvador sem camisa para levantar o ibope. Mas o interessente nisso tudo foi ver as boas músicas do Chico.

Os pais deveriam ser os responsáveis por apresentar boas músicas aos filhos. Os meus fizeram isso e eu os agradeço pois foi através deles que conheci o Chico. Domingo era sinônimo de macarronada ou peixe + vitrola da Gradiente + vinil do Chico, Bethania, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves ou um bolero qualquer. Lembro que sempre que tocava Chico eu conseguia me imaginar sentado em algum lugar do Rio olhando pro mar. Depois mudamos pro Rio e primeira vez que fui ao Leblon eu vi o próprio caminhando no calçadão. Quando íamos a praia eu ouvia mentalmente as músicas dele martelando na minha cabeça, era como se fosse a trilha sonora (tive a mesma sensação quando fui a Salvador mas quem martelava era o Dorival Caymmi).

Num período da minha vida deixei o Chico de lado e passei a ouvir rock. Novamente mexendo nas coisas dos meus pais comecei a ouvir Beatles, depois com amigos fui apresentado ao Pink Floyd, The Police, U2, Queen, Janes Joplin e Rolling Stones. Mudanças e lá estava eu começando a ouvir jazz. Timidamente com Nina Simone passando por Mile Davis, Etta James e hoje em dia The Bad Plus e Michael Bublé. Claro que teve o momento pop com Cindy Lauper, Madonna (poucos conseguem se reiventar como ela), Michael Jackson, Ace of Base, Roxette e muitos outros.

Num dos períodos mais bacanas da minha vida foi os sarais na casa da Martha. O mais marcante foi o que falava-se de amor. Eu nem sabia o que era muito isso mas fui conferir o que os que amavam iam falar. Logo na entrada da casa tocava Chico. Reclamações, frustrações e sonhos. Poucos falavam bem. Deu um medinho. Mais tarde chegando a casa dos meus pais fui correndo pra vitrola tentar ouvir alguma do Chico. Estava quebrada. Não tinha percebido como havia me afastado. Passei a madrugada toda lendo algumas letras. No dia seguinte voltei feliz com um cd debaixo do braço.

Na minha fase adulta com direito a relacionamentos amorosos Chico e Clarice sempre estiveram presentes. Algumas pessoas consultam as cartas, búzios e etc, eu folheava e ouvia tanto no começo quanto no final de um relacionamento. E por mais que eu tivera escutado ou lido mais mil vezes aquelas palavras elas se apresentavam como respostas para mim, como esclarecimento do não esclarecido, do não explicado, do não aceito.

Durante alguns términos eu cantava: "apesar de você amanhã há de ser outro dia" ... e depois recuperado eu cantava: "eis o malandro na praça outra vez". Nos momentos saco cheio de tudo debaixo do chuveiro eu cantava:" não se afobe não que nada é pra já, o amor não tem pressa ele pode esperar em silêncio, num fundo de armário..."

Hoje em dia procuro por novos sons na Amazon mas sempre retomo a minha lista de favoritos e sempre me surpreendo ouvindo a mesma música prestando atenção em detalhes que por alguma razão passei batido ou ainda não tinha maturidade para perceber.