Tuesday, November 12, 2013
Os arredores de Buenos Aires
Um ano inteiro de trabalho e por mais que consiga descansar nos fins de semana os olhos pedem para ver outras paisagens. Comecei a pesquisar para onde ir e eis que achei um ótimo custo-benefício: Buenos Aires. Depois de algumas pesquisas e passagem comprada comecei a querer saber o que poderia ver ao redor da capital e achei um trem que cortava pequenas cidades. Fiquei mais empolgado com essa possibilidade ao invés dos passeios clássicos.
E assim cheguei a Tigre. Imagina uma cidade com um rio navegável e pessoas remando pra lá e pra cá ao longo da margem do rio: clubes, casas bacana, parque de diversões, bares, lanchas, jet sky e vitalidade. Passei o dia por la com minha amiga e sabe quando você respira fundo e pensa alto: era disso que eu precisava!
Eu precisava ficar longe do RJ TV, longe do Bom dia Brasil que de bom dia quase nunca tem nada, longe dos mesmos acidentes de trânsito com causas praticamente iguais todos os dias. Por mim quem causa acidente e atrasa várias pessoas deveria ser multado. É uma entrevista de emprego que se perde, é uma visita no hospital com hora super restrita, é uma aula, é o último aviso do chefe: se vc chegar atrasado mais uma vez já era. Eu precisava desacelerar.
Eu sei que a América Latrina ta em crise, eu sei eu sei eu sei disso tudo. Mas aquela cidade parecida blindada. Ou meus olhos só viram o que acharam necessário. Pode ser mesmo isso, tenho olhos treinados para coisas leves. Não que não fique comovido com fome, miséria e etc. Eu choro, eu fico puto quando vejo criança esperança e a ideia dos caras de achar que construir um campo de futebol ou ter aulas de capoeira mudará a realidade de alguém. No fundo era um alívio ver aquele monte de vida feliz pra lá e pra cá.
Depois de anos sem andar numa roda gigante eu fiquei com medo e pensando e se aquilo enguiça, e se isso e aquilo. Quando é que viramos adultos e preocupados assim?? A Clarice diz que os adultos não são felizes. Talvez seja porque estamos o tempo todo em alerta, o tempo todo achando que algo ruim pode acontecer. E enquanto completava mais uma volta eu pensava no que eu tinha feito da vida até aquele momento. Desci satisfeito por ter aprendido desde pequeno o que era música de verdade, fiquei feliz por não ter tido um primeiro beijo traumático, fiquei feliz por ter meus pais sempre por perto, fiquei feliz pela simples fato de poder levar meus olhos para outras paisagens. Teve tristeza? Teve uma rapidinha. Aquela velha questão: 36 anos e solteiro, 36 anos e dedicando mais ao trabalho do que qualquer outra coisa. Depois me distraí com a montanha russa. A vida é uma distração após a outra?
A noitinha descemos em San Isidro e aí tem uma igreja medieval lindona bem iluminada no meio de arvores altas lindas e ao longo de uma escadaria uma feira. Meio artesanato e meio made in China (não gosto nada nada disso), e lá mais pra cima uma banda. Uma banda que tocava jazz e pessoas sentadas aplaudindo. E sentamos e ficamos ali sentindo aquele clima gostoso. Parecia uma coisa meio "before sunset" e depois lembramos do trem, o ultimo pra Buenos Aires era bem cedo. Perdemos o trem. E vimos um bar convidativo com reggae alto e lá fomos tomar uma cervejinha até o próximo. Eu pedi tanto pausa e eis que tive pausas memoráveis. Pausas com direito a trilha sonora.
Descer em Buenos Aires era voltar pro caos de buzinas e trânsito mas bendito foi a idéia do tal francês que projetou aquelas praças fantásticas. Como são bonitas, como é bacana ver pessoas aproveitando o espaço. Essa é minha ideia quando dizem: "precisamos abraçar a cidade" abraçar é isso, é tomar as praças e ficar lendo, bebendo, conversando. Acho patético quando lembro esses abraços em torno do Maracanã ou em volta da Lagoa.
Depois do banho numa banheira que não tinha função de banheira, fui deitar e fiquei ouvindo Sting e pensando que de fato as pequenas coisas nos trazem alegria. E lembro do "before sunset: "Por que um cachorro dormindo no sol é tão bonito...mas um cara sacando dinheiro num caixa eletrônico é tão idiota?".
Precisamos de mais beleza e menos idiotices... outra madrugada dessas continuo o papo...