Sunday, March 25, 2012

As tempestades...

Tem dias que parece que há dentro de nós uma tempestade pronta para desabar. E de alguma forma usamos espécies de capas de chuva, guarda-chuvas ou qualquer outro objeto para nos proteger e assim quando a tempestade chega não nos abala tanto. Camufla. Mas as tempestades não se formam de uma hora para outra. Às vezes chega de mansinho sem fazer muito barulho e se instalam aos poucos e se alimentam de frustrações e fantasias por horas, às vezes meses, outras vezes anos.
Há quem diga que depois de adulto não há como tais tempestades instalarem dentro nós, pois há uma espécie de alarme que apita sempre quando algum mal tempo está para chegar. Há quem diga que o alarme possa estar quebrado, possa ser alterado e assim não funcionar como deveria e há os que acreditam que não há alarme algum.
Há dentro de nós uma esperança que se alimenta de sonhos e de amigos que nos falam que tudo dará certo um dia, na hora certa. Mas depois de alguns movimentos sejam eles namoros, encontros, flertes, amizade com benefício, casamento, ou qualquer coisa parecida parece que o tal alarme entra em alerta máximo e nos faz puxar o freio de mão.
Há os que sonhavam com sorte de um amor tranqüilo com sabor de fruta mordida como na música do Cazuza. Há os que queriam fazer como o poema “mude” e sua primeira estrofe: mude, mas comece devagar. E estavam mesmo dispostos a começar devagar, devagarinho como na música do Martinho da Vila, há os que queriam compartilhar livros da Clarice Lispector, que quisessem ouvir Beatles num píer da Lagoa, que achasse sobremesas de pêssego com cheiro de shampoo. Há aqueles que queriam ter uma casa no campo como na música do Roberto com livros, discos, os amigos do peito e o silêncio das línguas cansadas.
Há uma vontade natural de permanecer no escuro e no silêncio. Silêncio esse interrompido às vezes por relâmpagos que fazem questão de lembrar que a tempestade ainda não passou. Há de limpar o tal alarme para que da próxima vez ele apite bem alto e nos avise o mais depressa possível.
OBS: Esse texto não citou os que sonhavam com músicas, livro (quando havia) e gostos duvidosos que beiravam a breguice ou coisas de “nem” ou “mano” que avançam nas cidades brasileiras.