Tuesday, November 20, 2007

Mercado do amor

Ando pensando ultimamente sobre romances, sobre relacionamentos e sobre essas coisas. Atualmente estou lendo Catsitters, um livro leve, interessante que mostra em detalhes como devemos fazer para fisgar alguém. No livro, Darlene é uma espécie de amiga e consultora amorosa para Johny Downs, depois que esse é traído pela namorada. Darlene mostra o quanto Downs é "distraído" nos relacionamentos e o transforma no que ela chama de "marido em potencial". E o mais engraçado que o livro é escrito por um homem: James Wolcott. O livro nos faz pensar que no amor é preciso mais do que gostar, é preciso inteligência, e nos faz ver o quanto somos inocentes quando olhamos pra trás e vemos que tudo que fizemos até agora foi agir conforme nossos impulsos e vontades. Irritante não? É estupidamente desanimador perceber que também no amor é preciso ter estratégia, assim como temos no trabalho. Como vender nossa imagem num mar de ofertas e facilidades que temos hoje em dia? Como prender a atenção de uma pessoa para que desperte nela a vontade de um segundo encontro? Se eu fizer um balanço das minhas saídas esse ano (considerando beijo na boca com ou sem sexo) eu tive poucos segundos encontros. E juro que alguns desses encontros eu queria poder ter a chance de mostrar mais como eu sou legal. Mas por que a gente precisa tanto assim de aprovação? Se pudéssemos, faríamos um outdoor com nossos pontos positivos (menos em São Paulo que não pode, achei péssimo, mas outro dia digo isso). De certa forma fazemos isso naquele orkut: Ta vendo aí como eu sou um bom partido? Gosto até de música sofisticada e ainda te levo pra jantar! Já não basta a gente ter que trabalhar, ter responsabilidades, pagar contas e ainda essa de ter um "marketing pessoal"? Tava vendo dia desses aquele canal Home & Health e eles falavam exatamente sobre o tal marketing. Que é até válido você exceder no seu marketing pessoal quando é apenas um encontro casual, mas se você pretende seguir adiante, então não pode exagerar na imagem que você está tentando vender. Mas como que você vai saber se aquele encontro vai dar em alguma coisa? Então, tem que ser na medida. Como dizem por aí "no amor e na guerra vale tudo".
Fui procurar artigos sobre esse tal "marketing pessoal" e sabe de uma coisa? Só encontrei artigos voltados para o público feminino. Humm será que a gente ta mesmo "distraído" como afirma Darlene? E só as mulheres estão tirando proveito disso? Bem, o primeiro artigo que encontrei é para um site feminino, mas o curioso é que o autor do artigo é um homem (Silvio Celestino, especialista em marketing pessoal formado pela FGV). Logo, mulheres, são os homens mais uma vez que estão ditando as regras. Já pensaram nisso? Outro dia vendo o programa da Fernanda Young vi um entrevistado dizer que o mundo da moda é feito por homens, por mais que sejam gays, eles são homens, sendo assim, é novamente o homem quem dita as regras. Eu achei engraçado um cara que usa terno dizer que a próxima tendência da moda é usar saia amarela.
Chega de enrolação... bem, o tal artigo afirma de cara que o marketing pessoal não irá ajudar no relacionamento mas logo a seguir o autor afirma que pode-se desenvolver o 'coaching' (treinamento) e o "marketing pessoal" desenvolvendo idéias e ações que gerem um novo contexto para o casal. E depois de dizer que toda nossa idéia de amor está erroneamente baseada em livros e filmes de romance o autor conclui que "Relacionamento é um empreendimento" e você que apostou todas as suas fichas em amar alguém deve ter sempre como meta um propósito: "quando mais pobre for o propósito, maior a chance de desilusão". O texto segue falando em investimento pessoal, em não ter "relacionamentos fracos" baseados em preenchimento de emoções e segue até a idéia de você sentar com seu parceiro (a) e expor suas metas e ouvir a dele e propor uma terceira meta objetivando a melhor de forma de fechar o negócio.
Chego a conclusão que esse tempo todo eu e você fomos enganados. Enquanto achávamos que amar era se entregar, era ouvir o coração, era sentir as pernas trêmulas, era ter aquela sensação de flutuar a verdade era bem outra: como o amor foi inventado na baixa idade média seria bem lógico que o ato de amar realmente necessitasse de um manual. Confesso que tenho um certo medo de tanta lógica e praticidade assim. O que me assusta é que no fundo essas sensações estão sendo deixadas de lado e parte-se para guerra de amar com objetivos claros e sem emoções. O amor não é mais escravo do ser apaixonado, pelo contrário, o amor é outra pauta da reunião que devemos discutir.