Sunday, November 25, 2007

Muita areia pro meu caminhãozinho

Algum tempo atrás estava ocupando parte do meu horário de almoço na Saraiva e acabei lendo uma matéria muito interessante na revista Vida Simples da editora Abril. A revista é leve, cheia de matérias bacanas e lembro-me até hoje de uma foto que me chamou a atenção logo que abri a matéria " Você gosta de você?" A foto é essa mesma que está abrindo o post de hoje. Ta vendo aí? Um caminhãozinho cheio de areia. E o título da foto não poderia ser melhor: é muito areia pro meu caminhãozinho! Quantas vezes não pensamos isso? Principalmente na adolescência. Depois a gente vai vendo que o nosso caminhãozinho é muito bom sim senhor, e as areias é que terão que se adaptar. Para eu ter essa consciência demorou alguns anos. Tal "consciência" pode muito bem ser traduzida como: o momento que passei a reparar em mim, ou para ser mais exato é o momento em que passei a gostar de mim. E volto a fazer a mesma pergunta que da matéria do repórter Rodrigo Cavalcante: Você gosta de você? Gostar de você mesmo está diretamente relacionado com a sua auto-estima. Na matéria Cavalcante toca em um ponto sobre o péssimo costume brasileiro que acho falso e cansativo: ser altamente humilde. É quase que obrigatório ser humilde, principalmente se a pessoa for bem sucedida. Ou aquilo de andar de chinelo 24 horas por dia para mostrar que é uma pessoa simples. As pessoas por aqui não conseguem relacionar a idéia de ser simples com a idéia de conforto.Estou lendo o livro "Desejo de Status" do filósofo suíço Alain de Botton, que é uma espécie de investigação de causas que levariam a uma ansiedade de status, ou seja, qual seria a origem da ansiedade que todo homem moderno tem de estar sempre acima dos demais? Até onde eu li, pude perceber que a tal angústia por status se manifesta como uma insegurança pessoal. Voltamos aquela velha história do gramado do vizinho ser mais verde que o nosso. E para preencher tal insegurança, o angustiado tenta preencher a falta comprando cada vez mais. O problema todo é que esse consumismo é baseado no que os outros pensam e não no que ele realmente deseja. Bottom diz que esse é o pior tipo de ambição. Acho válido dizer que o livro NÂO é de auto-ajuda (eu não perderia meu tempo falando desses manuais feito pra pessoas que não sabem pensar).
Não dá um certo medinho parar pra pensar se nós estamos nos tratando bem? Eu percebo que algumas vezes tenho esse "desejo por status", geralmente acontece quando alguma coisa não saiu conforme eu pensei. E como bom capricorniano faço planos perfeitos na minha cabeça e espero que tudo saia exatamente como pensei, se alguma coisa não estiver próximo do que foi idealizado eu desligo o botão do eu me amo e aperto aquele outro que o Botton diz em seu livro. Essa coisa de auto-estima não deveria ser inabalável? Se é algo que você constrói desde criança (diziam as pesquisas que a maioria dos psicopatas quando criança tiveram a auto-estima destruída e hoje em dia fala-se que o excesso de auto-estima também pode ser perigoso, o que levaria alguns a se tornarem racistas, líderes de guangue e etc) então como pode ser abalada com um simples não?
No interessante artigo da "Vida Simples" a conclusão que se chega é que a genuína auto-estima "exige uma boa dose de realismo e coragem para lidar com sentimentos indesejados como dor, impotência, vergonha e medo. E esse, definitivamente, não seria o caso de uma pessoa extremamente narcisista, cuja confiança em si estaria sempre vulnerável à aprovação da imagem fictícia que essa pessoa faz dela. Quando essa imagem não é reconhecida, surgiriam então os distúrbios de personalidade em forma de transtornos alimentares (anorexia e bulimia, por exemplo) ou mesmo em inesperadas explosões de violência" (CAVALCANTI, 2007).
Lendo o artigo, pude também ficar mais aliviado, pois é até normal que eu fique triste com alguma crítica, na verdade é com isso que tento melhorar a cada dia meu modo de viver, minha aparência e outras tantas coisas.O que não pode é super valorizar isso e deixar por exemplo, de expor suas opiniões e sentimentos. No finalzinho do artigo a palavra mágica para tudo isso que falamos é: honestidade. Só sendo honesto conosco que vamos poder parar e ver a forma como estamos nos tratando, se estamos ou não ligando o terrível botão do "desejo por status" e dando mais importância a opinião dos outros do que as nossas. Tá na hora de tomar um banho e longo e ficar debaixo da água pensando nessa tal de honestidade consigo mesmo... Ah, a matéria completa da Vida Simples encontra-se nesse endereço abaixo: