Se pudessem medir suas expectativas esse ano qual grau elas atingiram? As minhas vivem entre o médio e o máximo. Esse ano de repente com todos os livros de Osho que andei lendo na hora do almoço e outras obras parecidas talvez poucas vezes o alarme soou avisando que o máximo estava perto. E todos nós já sabemos que não devemos ter muitas expectativas por que blá blá blá a decepção é maior e blá blá blá o desapontamento e mais uns dez desses blá blá blá.
Já há algum tempo eu tinha lido no Der Spiegel a criação do hotel zero estrelas em uma cidade suíça. A justificativa do criador para a ausência das tão desejadas estrelas por todos era não para degradar o serviço, mas para dar a eles, os artistas, liberdade de criação. Já pensaram se não é isso que anda faltando em nossas vidas? Liberdade para viver sem roteiros pré-estabelecidos. Como seria viver assim? Levantar cedo e deixar o dia acontecer sem programar nada, sem lembrar que você é fulano e ocupa um cargo x e surpreender as pessoas que esperam essa ou aquela atitude? Quando você viaja para um hotel zero estrelas, por exemplo, suas expectativas são baixíssimas, aquela sensação de fracasso acompanha você o tempo todo por que o natural era você ir para o Sun City Paraíso, aquele 6 estrelas sul africano e já saber que vai ter isso e aquilo. Expectativas? Sim! Mas expectativas programadas.
Clarice no difícil “água viva” já dizia: “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”. Já alguns anos eu andei desejando tranqüilidade, serenidade e ganhar na mega sena para poder usufruir dessa tranqüilidade desejada de forma máxima. Se segundo Clarice liberdade é pouco, o que seria a liberdade então? A liberdade também está intimamente ligada ao conceito de livre-arbítrio que também está ligada a religião, política, ao pensamento, a filosofia, a vida em sociedade e mais um monte de outras coisas.
Vasculhando pensamentos dos grandes filósofos eu gosto da idéia que Sartre trouxe afirmando que o homem é produto de sua liberdade: o homem escolhe as ações que faz, e é nessa ação livre que o homem escolhe ser seu, que se constrói enquanto sujeito:
“Com efeito, sou um existente que aprende sua liberdade através de seus atos; mas sou também um existente cuja existência individual e única temporaliza-se como liberdade [...] Assim, minha liberdade está perpetuamente em questão em meu ser; não se trata de uma qualidade sobreposta ou uma propriedade de minha natureza; é bem precisamente a textura de meu ser... “
Quais momentos você já escolheu ser só seu?
Sartre vai mais longe dizendo que se somos nós que escolhemos nossas ações então tais ações são feitas de forma intencional e o que move essa ação é uma vontade consciente. Então todo aquele papo da pessoa agir sem ter a intenção não existe? As pessoas deveriam encher os pulmões e dizer: “Fiz dessa forma, por que tive vontade, meu desejo era maior do que pensar se ia ou não prejudicar você”. Iria ser um caos. Iria assustar até nós mesmos!
Liberdade também está relacionada com a nossa liberdade diária de poder errar. Me dá arrepio quando ouço alguém falando: “hoje me dei o luxo de comprar isso, ou luxo de ir ao cinema”. Quando a gente se dá o luxo de alguma coisa é afirmar que vivemos presos. Os tais luxos seriam os poucos momentos de liberdade ao longo do ano. Que modo de viver é esse? E certamente quando se vive assim essas pessoas se dão o luxo de errar, de recomeçar, de ligar para o melhor amigo e até de se apaixonar. Não soa como algo presunçoso? “Sou tão importante, tão indispensável que me dei o luxo de alguma coisa.”
Todo ano eu reflito sobre a forma que caminhei. Esse ano foi estranho em relação aos poucos amigos. Pontes enormes interditadas. Expectativas grandes em relação ao trabalho. Liberdade financeira maior e em contrapartida liberdade intelectual menor. Menos livros que no ano passado. Menos cinema. Mais DVD. Mais Gilmore Girls. Menos chocolate. Mais viagens. Mais beijo na boca. E a mesma boca. Mais liberdade de errar. Mais músicas.
O texto não deveria acabar assim, deveria ter mais citações e mais discussão. Mas tomarei a liberdade de interromper e refletir sozinho e terminar com mais uma citação da Clarice:
“Sou assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico - a vida é sobrenatural. E eu caminho em corda bamba até o limite de meu sonho. As vísceras torturadas pela voluptuosidade me guiam, fúria dos impulsos. Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me."
Já há algum tempo eu tinha lido no Der Spiegel a criação do hotel zero estrelas em uma cidade suíça. A justificativa do criador para a ausência das tão desejadas estrelas por todos era não para degradar o serviço, mas para dar a eles, os artistas, liberdade de criação. Já pensaram se não é isso que anda faltando em nossas vidas? Liberdade para viver sem roteiros pré-estabelecidos. Como seria viver assim? Levantar cedo e deixar o dia acontecer sem programar nada, sem lembrar que você é fulano e ocupa um cargo x e surpreender as pessoas que esperam essa ou aquela atitude? Quando você viaja para um hotel zero estrelas, por exemplo, suas expectativas são baixíssimas, aquela sensação de fracasso acompanha você o tempo todo por que o natural era você ir para o Sun City Paraíso, aquele 6 estrelas sul africano e já saber que vai ter isso e aquilo. Expectativas? Sim! Mas expectativas programadas.
Clarice no difícil “água viva” já dizia: “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”. Já alguns anos eu andei desejando tranqüilidade, serenidade e ganhar na mega sena para poder usufruir dessa tranqüilidade desejada de forma máxima. Se segundo Clarice liberdade é pouco, o que seria a liberdade então? A liberdade também está intimamente ligada ao conceito de livre-arbítrio que também está ligada a religião, política, ao pensamento, a filosofia, a vida em sociedade e mais um monte de outras coisas.
Vasculhando pensamentos dos grandes filósofos eu gosto da idéia que Sartre trouxe afirmando que o homem é produto de sua liberdade: o homem escolhe as ações que faz, e é nessa ação livre que o homem escolhe ser seu, que se constrói enquanto sujeito:
“Com efeito, sou um existente que aprende sua liberdade através de seus atos; mas sou também um existente cuja existência individual e única temporaliza-se como liberdade [...] Assim, minha liberdade está perpetuamente em questão em meu ser; não se trata de uma qualidade sobreposta ou uma propriedade de minha natureza; é bem precisamente a textura de meu ser... “
Quais momentos você já escolheu ser só seu?
Sartre vai mais longe dizendo que se somos nós que escolhemos nossas ações então tais ações são feitas de forma intencional e o que move essa ação é uma vontade consciente. Então todo aquele papo da pessoa agir sem ter a intenção não existe? As pessoas deveriam encher os pulmões e dizer: “Fiz dessa forma, por que tive vontade, meu desejo era maior do que pensar se ia ou não prejudicar você”. Iria ser um caos. Iria assustar até nós mesmos!
Liberdade também está relacionada com a nossa liberdade diária de poder errar. Me dá arrepio quando ouço alguém falando: “hoje me dei o luxo de comprar isso, ou luxo de ir ao cinema”. Quando a gente se dá o luxo de alguma coisa é afirmar que vivemos presos. Os tais luxos seriam os poucos momentos de liberdade ao longo do ano. Que modo de viver é esse? E certamente quando se vive assim essas pessoas se dão o luxo de errar, de recomeçar, de ligar para o melhor amigo e até de se apaixonar. Não soa como algo presunçoso? “Sou tão importante, tão indispensável que me dei o luxo de alguma coisa.”
Todo ano eu reflito sobre a forma que caminhei. Esse ano foi estranho em relação aos poucos amigos. Pontes enormes interditadas. Expectativas grandes em relação ao trabalho. Liberdade financeira maior e em contrapartida liberdade intelectual menor. Menos livros que no ano passado. Menos cinema. Mais DVD. Mais Gilmore Girls. Menos chocolate. Mais viagens. Mais beijo na boca. E a mesma boca. Mais liberdade de errar. Mais músicas.
O texto não deveria acabar assim, deveria ter mais citações e mais discussão. Mas tomarei a liberdade de interromper e refletir sozinho e terminar com mais uma citação da Clarice:
“Sou assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico - a vida é sobrenatural. E eu caminho em corda bamba até o limite de meu sonho. As vísceras torturadas pela voluptuosidade me guiam, fúria dos impulsos. Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me."