Tuesday, December 16, 2008

É natal?

O barulhinho dos sinos natalinos chegou mais cedo ou nós que estamos muito ocupados e achamos que tudo está mais rápido? Ou a culpa é do comércio que de alguma forma encurtou o calendário para vender mais em um prazo menor? Na minha mente ainda seria páscoa. Não ia me espantar de ver hoje ovos de páscoa e coelhinhos pela cidade. Às vezes tenho a sensação que estava em coma e entrei nesse estado lá pelo carnaval e recebi alta agora no fim do ano. Ou seja, me roubaram a páscoa, o dia das crianças e as festas juninas e me jogaram agora no natal. Sei não, mas parece que somos a Sra Kerner do ótimo “Goodbye Lenin”. Bem, se somos ela não fomos poupados de nada. Jogaram-nos do carnaval para o natal sem piedade nenhuma.
Essa semana ouvi dois amigos falando em “fazer compras de natal” eu comprei presente para os aniversariantes do mês, mas de natal nada! Ontem mesmo achei que minha teoria faz certo sentido. As Lojas Americanas estão vendendo chocolates em formato de ovos de páscoa!! Está aí a prova de que até o comércio está confuso e para garantir que todos comprem até os que perceberam esse “acelerador de ano”, eles vendem ovos de páscoa natalinos. Confesso que fiquei na fila observando quem iria comprar um desses.
Minha teoria continua fazendo sentido se a gente pensar que eles também invertem a situação na páscoa: vendem-se panetones ou melhor chocotones. Que no fundo é a mesma coisa. E assim, não ficamos mais com água na boca esperando uma data importante chegar. Come-se panetone na páscoa, ovo de páscoa no natal, rabanada o ano todo e por aí vai. Andei fazendo uma pesquisa aqui no escritório que trabalho e neguinho come no natal: lasanha, bolo de chocolate, frango assado, pudim e até churrasco! Lista natalina mais estranha. É o mesmo que dar de presente para as crianças na páscoa um saco de paçocas!
Para achar uma justificativa boa para a fusão de presentes páscoa-natal sem escalas eu me lembrei daquela parada religiosa. A páscoa é a ressurreição e o natal o nascimento de Jesus. É. Pensando por esse lado o comércio tem uma boa justificativa. Eu tenho medo de daqui a uns anos presenciar criancinhas pedindo presente de natal para o coelhinho da páscoa que agora viria de trenó, o papai Noel botando ovos e os trazendo na cestinha, no carnaval pessoas vestidas de branco e indo jogar flor para Iemanjá, no ano novo todos fantasiados e pulando nos adolescentes trios elétricos baianos. Aliás, palmas para os empresários baianos que inventaram essa porra de lotes. 1º lote x real, 2º lote xx real. Cretinice total.
Fui à terra da garoa no início do mês e parte da Paulista lembra New York: os maiores bancos enfeitados, árvores de natal de diversos tipos (até aquelas cafonas ecologicamente corretas e horrendas) e muitas luzinhas. Luzinhas azuis. Tomara que essa moda não pegue. Feio demais. O Trianon tem a árvore mais bonita. Paulistanos se acham mesmo um pouco nova iorquino. Melhor que nordestino que se acha paulistano, não é? E como todo ano o sul do Brasil tentando fazer alguma festa que vire tradição. “As meninas na janela” de Curitiba estavam lá de novo cantando apesar de perto dali o povo estar alagado (deveriam colocar meninas, o banco patrocinador e os visitantes para ajudar os alagados do Estado vizinho) e rolou até uma espécie de desfile natalino em uma cidade da serra gaúcha com bonecos e carros de natal. O Rio faz a mesma coisa na Av. Atlântica. Palmas para São Paulo que manteve a tradição e não inventou outra fusão: natal-carnaval.
Já que nem vimos o ano passar, que tal aproveitar que ainda temos papai Noel em dezembro e torcer para que ele traga um presente bem bacana? Acho que tranqüilidade seria um bom pedido. Iria funcionar como uma espécie de freio e assim teríamos tempo suficiente para perceber como a vida é bacana. Podemos pedir de brinde também um apartamento de frente pro mar ou pro parque para que essa tranqüilidade seja bem aproveitada. E lá dentro muitos filmes, músicas boas, caipirinhas geladinhas, comidas saborosas e um amor a nossa espera armando a árvore de natal.