Sunday, March 08, 2009

O transporte

O intervalo entre uma saudade e outra tem nome?
Esse tal intervalo que há entre os sentimentos que às vezes parece uma eternidade é chamado do que?
E aquela ponte que liga o que era bom e o que não existe ou está a ponto de não existir que nome teria?
Existe meios de transportes específicos para cada sentimento? Paga-se pedágios para alguns mais nobres?
E aquela montanha russa de emoções? Quando o carrinho está lá no alto que nome tem? E quando ele desce com tudo? E quando simplesmente ele trava? E quando não tem cinto de segurança e você olha com medo de ser jogado para fora no próximo looping?
O intervalo, a montanha russa, a ponte que conecta o intervalo, o transporte que os conduz, a saudade que vai dentro da carruagem que passa nessa ponte teria um termo que denominasse tudo isso?
Tem horas que a vontade é correr como um maratonista. Vestir o uniforme e sair pelo mundo correndo, correndo até a vista ficar turva e o corpo mole e cair no chão de cansaço. Quem sabe assim o amor também se desmancha? E desmanchado a gente cata, coloca num potinho e corre até a praia mais próxima e joga no mar. De primeira não vamos fazer isso. Vamos colocá-lo no potinho e não vamos lacrar a tampa. Por quê? Nas situações de emergência a gente sabe que pode violar e abrir a tampa. Num segundo momento a gente fecha com mais força e abre somente quando nos favorecer, quando as pernas estiverem bambas, quando a cabeça entrar em contato direto com o coração sem passar pelo nosso senso crítico. Num próximo momento a gente lacra e aí respira fundo e o lança no mar. E não olha para trás com medo do potinho vir parar nos nossos pés. E se parar a gente cava um buraco na areia e enterra e enterra.
Outras horas paramos de correr e tapamos os ouvidos e a música que antes aliviava agora machuca, e o filme que ora trazia alegria agora nos irrita e o chocolate que era visto com prazer agora engorda e paramos na frente de um grande relógio e ficamos diante dele sem esperança. Quando os ponteiros do relógio avançam ficamos em baixo olhando para cima observando os minutos passarem, passamos dias assim, estáticos vendo a mesma cena e nem percebemos que atrás de nós um sol se pôs e nasceu, uma lua ficou cheia, nova, crescente, decrescente e cheia de novo. Não ouvimos absolutamente nada, não enxergamos coisa alguma e andamos por aí tateando as coisas.
As correntes sempre foram fortes. E nós enfrentamos. Sem barco, sem remo, sem bóias. E apesar de tudo nunca tivemos medo em afogar. E se por acaso, água bebêssemos enfrentaríamos tudo de novo só para ter o coração batendo, as pernas bambas e a esperança rondando nossa vida. O que fazemos com o medo? Guardamos naquele potinho e lacramos de primeira sem pestanejar. Frio na barriga não é medo, é o coração acordando mais um órgão e o convocando para a beleza do amor.