Volta ao trabalho deveria ser uma coisa light, mas nem sempre é assim. Voltei essa semana e dez minutos depois somado ao estagiário falando no meu ouvido eu queria mesmo era dar meia volta e pegar a ponte de volta para casa. E ia feliz com engarrafamento e tudo, mas em segundos caí na real e lembrei-me das contas, do quanto demorou para ocupar o posto atual e aí dei um suspiro, lavei o rosto e atendi o próximo telefonema. Desemprego seria um fantasma pior.
Volta para ex na teoria também deveria ser uma coisa legal. Na prática aquela pessoa que tanto amávamos ficou no passado. E nós também somos outra pessoa. Então como podemos voltar para alguém ainda não é? Voltamos pra lembrança e para a pessoa que ajudamos a construir em nossa cabeça. Isso tudo é claro que partindo da idéia de que namoramos pessoas bacanas e evoluídas, mas se foram ogros ou mocréias aí elas não mudaram nada e os defeitos e as babaquices continuam as mesmas. Melhor correr sozinho na praia.
A volta que menos damos importância é para nos mesmos. Não é tempo de parar agora o que estamos fazendo e lembrar do que gostávamos de fazer? Eu, você e um monte de pessoas por aí estão no automático. A gente volta de férias como se nunca tivesse saído, a gente anda na chuva por três quarteirões e quando chega a casa e olha na janela se surpreende que esteja chovendo, a gente ouve grosserias e devolve outras com naturalidade.
Vim pela ponte relendo Cecília Meirelles e eis que abro na página em que ela diz: “ aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira”. Tem como voltar inteiro aos poucos? Eu cismo em voltar assim e no fundo sei que brinco de estar inteiro, brinco de que está tudo bem e brinco de viver. Deve ter algum momento na vida em que somos alertados desse modo de vida no automático. Se não a gente envelheceria sem perceber. A gente envelhece. Alguns percebem. Gostaria de perceber também.