keepwalking: a vida sem música seria um erro
Tuesday, November 12, 2013
Os arredores de Buenos Aires
Sunday, March 25, 2012
As tempestades...
Há quem diga que depois de adulto não há como tais tempestades instalarem dentro nós, pois há uma espécie de alarme que apita sempre quando algum mal tempo está para chegar. Há quem diga que o alarme possa estar quebrado, possa ser alterado e assim não funcionar como deveria e há os que acreditam que não há alarme algum.
Há dentro de nós uma esperança que se alimenta de sonhos e de amigos que nos falam que tudo dará certo um dia, na hora certa. Mas depois de alguns movimentos sejam eles namoros, encontros, flertes, amizade com benefício, casamento, ou qualquer coisa parecida parece que o tal alarme entra em alerta máximo e nos faz puxar o freio de mão.
Há os que sonhavam com sorte de um amor tranqüilo com sabor de fruta mordida como na música do Cazuza. Há os que queriam fazer como o poema “mude” e sua primeira estrofe: mude, mas comece devagar. E estavam mesmo dispostos a começar devagar, devagarinho como na música do Martinho da Vila, há os que queriam compartilhar livros da Clarice Lispector, que quisessem ouvir Beatles num píer da Lagoa, que achasse sobremesas de pêssego com cheiro de shampoo. Há aqueles que queriam ter uma casa no campo como na música do Roberto com livros, discos, os amigos do peito e o silêncio das línguas cansadas.
Há uma vontade natural de permanecer no escuro e no silêncio. Silêncio esse interrompido às vezes por relâmpagos que fazem questão de lembrar que a tempestade ainda não passou. Há de limpar o tal alarme para que da próxima vez ele apite bem alto e nos avise o mais depressa possível.
OBS: Esse texto não citou os que sonhavam com músicas, livro (quando havia) e gostos duvidosos que beiravam a breguice ou coisas de “nem” ou “mano” que avançam nas cidades brasileiras.
Friday, October 07, 2011
Vamos reparar mais?
Por que só reparamos de perto nas coisas quando elas já não estão mais ali? Minha reflexão começou outro dia depois que torci meu pé esquerdo. Estava distraído caminhando e em questão de segundos torci. Doeu um pouco e deixei pra lá. Uma semana depois estava mancando e daí comecei a reparar na droga de uma calçada desnivelada que me leva até a entrada do escritório e como era preciso me esforçar para andar ali.
Nós não reparamos nas pessoas. Trabalhamos anos com elas e nem se quer nos damos o trabalho de tentar saber se está tudo bem de verdade. Se algum deles tem problema com drogas, se estão solitários, endividados, se estão de fato felizes. A hora do almoço no trabalho nunca foi momento para reparar isso. Comecei a reparar nas pausas para o café, no modo de segurar a xícara, na saída aflita quando tocava o telefone e no desejo da hora passar bem rapidinho para que pudesse pegar o primeiro elevador disponível.
Para ser mais preciso nem em nos mesmos nós reparamos. Acho que tem semanas que não me olho no espelho. Olhar mesmo de verdade. Reparar se tem espinha. Reparar os fios brancos. Reparar no formato do rosto...
A gente repara pouco porque estamos no modo automático. É mais simples. É mais pratico. E não nos tira do falso estado de conforto. Quando reparo que a calçada tem o tal desnível que eu nunca vi é porque eu agora preciso ter cautela ao andar ali se não me machuco ainda mais. Se o outro cair o problema é dele. A gente so repara quando isso pode nos afetar. E ainda assim com prazo de validade. O tempo de mudança de estado é o tempo de deixar de reparar e como uma roda gigante mudamos do banco da igualdade pro banco da indiferença.
Desejamos tanta coisa pro futuro, cantamos junto com o Lulu Santos quando ele diz que vê um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera. Seria justo somar a tudo isso o interesse pelo próximo, não aquele interesse de vigilante que toma conta da vida alheia, muito menos aquele interesse cristão de julgar. O interesse aqui é aquele puro de estar presente de verdade. Quando ouvimos que devemos amar nosso semelhante como a nos mesmo é começar a dar importância o que aquele outro ser humano tem a dizer. Nem ser uma espécie de divã onde o outro desaba quando tudo está quase transbordando. Bastava pequenas doses diárias de atenção, aposto que não teria contra-indicação, nem tarjas vermelha ou preta. Estaria ali exposto na primeira prateleira para que todos pudessem tomar.
Saturday, September 10, 2011
o amor tem pressa (Monica Montone
“Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar”
“O amor não tem pressa”? “Ele pode esperar”?
Desculpe-me, Chico, mas desconheço o amor que pode esperar.
O amor, quando é pra valer, é sinfônico, urgente, latente.
Pede pela pele do outro. Pede pelo veludo da voz e pela maciez do sorriso. Pede pelo gozo, pelo gole partilhado na bebida, pela brincadeira noturna sob os lençóis e até mesmo pelo silêncio de depois. Pede por palavras escolhidas cuidadosamente que salientem o indizível.
O amor é valsa, baião de dois, salsa, molho, tempero, batucada, estrada.
Quem ama não espera! Muito menos em silêncio! Sofre e reclama quando o ser amado não está ao alcance das mãos.
Quando o amor acontece, ele é pra já, sim, senhor. Ele não cabe num fundo de armário, na posta-restante, num poema rabiscado ou num retrato rasgado.
Quem ama tem fome. Quem ama tem sede. Quem ama dá vexame, faz a fama e deita na cama.
Quem ama escreve cartas e às vezes nem envia. Quem ama escreve cartas ridículas.
O amor que espera, desconheço. Quem sabe não se trata de um mero adereço da resignação? Pluma que enfeita a fé de quem perdeu o bem amado? Pluma leve, que como a ilusão pode ser lançada ao longe com um simples sopro de realidade e se perder no ar...
O amor não tem remédio, nem nunca terá, não tem juízo, nem nunca terá, não tem medida, nem nunca terá... Mas não, Chico, ele não pode esperar.
by Mônica Montone
Sunday, January 16, 2011
O Chico e as outras canções
Os pais deveriam ser os responsáveis por apresentar boas músicas aos filhos. Os meus fizeram isso e eu os agradeço pois foi através deles que conheci o Chico. Domingo era sinônimo de macarronada ou peixe + vitrola da Gradiente + vinil do Chico, Bethania, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves ou um bolero qualquer. Lembro que sempre que tocava Chico eu conseguia me imaginar sentado em algum lugar do Rio olhando pro mar. Depois mudamos pro Rio e primeira vez que fui ao Leblon eu vi o próprio caminhando no calçadão. Quando íamos a praia eu ouvia mentalmente as músicas dele martelando na minha cabeça, era como se fosse a trilha sonora (tive a mesma sensação quando fui a Salvador mas quem martelava era o Dorival Caymmi).
Num período da minha vida deixei o Chico de lado e passei a ouvir rock. Novamente mexendo nas coisas dos meus pais comecei a ouvir Beatles, depois com amigos fui apresentado ao Pink Floyd, The Police, U2, Queen, Janes Joplin e Rolling Stones. Mudanças e lá estava eu começando a ouvir jazz. Timidamente com Nina Simone passando por Mile Davis, Etta James e hoje em dia The Bad Plus e Michael Bublé. Claro que teve o momento pop com Cindy Lauper, Madonna (poucos conseguem se reiventar como ela), Michael Jackson, Ace of Base, Roxette e muitos outros.
Num dos períodos mais bacanas da minha vida foi os sarais na casa da Martha. O mais marcante foi o que falava-se de amor. Eu nem sabia o que era muito isso mas fui conferir o que os que amavam iam falar. Logo na entrada da casa tocava Chico. Reclamações, frustrações e sonhos. Poucos falavam bem. Deu um medinho. Mais tarde chegando a casa dos meus pais fui correndo pra vitrola tentar ouvir alguma do Chico. Estava quebrada. Não tinha percebido como havia me afastado. Passei a madrugada toda lendo algumas letras. No dia seguinte voltei feliz com um cd debaixo do braço.
Na minha fase adulta com direito a relacionamentos amorosos Chico e Clarice sempre estiveram presentes. Algumas pessoas consultam as cartas, búzios e etc, eu folheava e ouvia tanto no começo quanto no final de um relacionamento. E por mais que eu tivera escutado ou lido mais mil vezes aquelas palavras elas se apresentavam como respostas para mim, como esclarecimento do não esclarecido, do não explicado, do não aceito.
Durante alguns términos eu cantava: "apesar de você amanhã há de ser outro dia" ... e depois recuperado eu cantava: "eis o malandro na praça outra vez". Nos momentos saco cheio de tudo debaixo do chuveiro eu cantava:" não se afobe não que nada é pra já, o amor não tem pressa ele pode esperar em silêncio, num fundo de armário..."
Hoje em dia procuro por novos sons na Amazon mas sempre retomo a minha lista de favoritos e sempre me surpreendo ouvindo a mesma música prestando atenção em detalhes que por alguma razão passei batido ou ainda não tinha maturidade para perceber.
Saturday, November 20, 2010
Quantos dedos estão ocupados?
Quando era adolescente lembrava da minha avó falando que amigos cabem em uma das mãos. Achava exagero, achava que ela de repente tivera sido severa demais e por isso tal conclusão. Hoje concordo com ela. É um mistério a chegada de pessoas em nossas vidas. Juram de pé junto que é uma troca. E mesmo com experiências ruins anos depois as pessoas começam a tentar interpretar e separar as coisas boas naquela troca mal sucedida.
Será que há um alarme que nos permite que tal pessoa se aproxime de nós? E se ela se aproximou e a amizade não durou muito tempo é culpa do alarme que não apitou ou de nós mesmo que ouvimos, ignoramos e depois seguimos lamentando ou completamente vazio sem entender nada?
Uma coisa é fato: não devemos misturar os amigos. É tão contraditório um amigo não combinar com o outro e ao mesmo tempo você combinar com os dois. Chego a conclusão de por sermos múltiplos, uma de nossas personalidades assume e domina o todo quando estamos com esse ou aquele amigo e por isso que misturar não funciona pois a personalidade do amigo não será a mesma do outro amigo.
Ainda quando era adolescente lembrava do meu avô e de seu único amigo. Minha avó com duas ou três amigas. Minha mãe acho que nenhuma. Meu pai e seus amigos passageiros. Minha irmã eu acredito que duas (ela sempre brigava). Minha prima muitas e muitas “migas” e ao mesmo tempo nenhuma.
Dos tempos de cursinho pra cá ficaram na minha vida duas ótimas amigas. Eu escolhi? Elas escolheram? O destino escolheu? Sempre brinco de olhar pra minha mão no escuro e vejo os dois primeiros dedos ocupados com elas. Os outros três dedos são cargos transitórios. Não sei se daqui a um dia, um ano, dez anos serão ocupados de forma definitiva. Estou sendo duro. Na verdade acho que só um está vago.
Tuesday, November 16, 2010
Folheando Cecília
O Amor...
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"
Apesar de tudo continuo acreditando. Tem dias que meus pés não querem pisar diretamente no chão e me protejo com sapatos pesados. Apesar de negar e de fugir acabo me encontrando de formas inesperadas com pessoas interessantes. Acreditar é sobreviver a encontros desajeitados. Dessa última temporada de tentativas apenas uma me deixou desconsertado, com frio na barriga, pensando mil vezes em pegar a ponte aérea, mas como a própria Cecília diz na poesia “os vencedores são os fortes” não sei quem foi fraco. Talvez meus passos não foram tão visíveis para outra pessoa, talvez as invés de mensagem de texto eu deveria ter ligado. Talvez mesmo estando descalço a outra pessoa me viu de sapatos nos pés. Volto a folhear Cecília: “Basta-me um pequeno gesto/ feito de longe e de leve/ para que venhas comigo/ e eu para sempre te leve... Talvez a outra pessoa não quisesse nesse momento que barreiras fossem quebradas. Deveriam inventar um aparelhinho que apitasse quando duas pessoas estivessem no mesmo momento. Ontem ouvindo Calcanhoto não parei de pensar na frase da canção composta por Cazuza “sonhar só não está com nada, é uma festa na prisão”. Sonhar é mesmo a dois. Tem dia que dá vontade de pegar as chaves sem o carcereiro ver e fugir para poder sonhar a dois. Lá num restaurante mexicano ou aqui vendo o sol no Arpoador.